Ei, menino, você ainda está aí?! Não percebe que não sei escrever e preferiria que você fechasse esse livro?!… Já sei; preste bastante atenção: se não fechá-lo agora mesmo, poderei transformá-lo num… num… Não, espere! Acabei de me lembrar de uma história que minha tataratataratataratatara… Bem, já faz tantos séculos que nem me lembro mais quem a contou. Também, quem se importa?!… Quanto mais velha e descolorida a história melhor. A história começa assim:
Era uma vez um país onde só existiam bruxos e bruxas. Lugarzinho bom esse! Mas, apesar de toda a maldade que pairava no ar, a vida era muito monótona, porque os habitantes só estudavam a teoria dos feitiços e não tinham a comprovação de sua eficácia. Naturalmente bruxo não enfeitiça bruxo; e, por esse motivo, as fórmulas apodreciam sem jamais sair do papel. Tudo parecia perdido até que, certo dia, um duende muito esperto apareceu com um mapa do espaço, e indicou um planeta no qual haveria gente de sobra para servir de cobaia. Sem perder um minuto sequer, os bruxos exploradores montaram em suas vassouras mágicas e percorreram a rota que unia o país dos bruxos ao mundo dos homens.
Chegando lá, os destemidos bruxos tiveram uma surpresa ao verificar que os homens conseguiam ser ainda mais perversos do que os próprios bruxos. Pensaram: bruxo não mata bruxo, homem mata homem; logo: homem é pior do que bruxo. Aterrorizados, retornaram ao país dos bruxos vo-an-do em suas vassouras mágicas. Após reunirem-se com os dirigentes do país dos bruxos, os exploradores convenceram-se de que seria melhor voltarem ao misterioso planeta e estudá-lo, em vez de tirarem conclusões precipitadas. Os dirigentes não se enganaram: bruxos e homens poderiam conviver num mesmo planeta.
Você duvida?… Bruxos são espertos e homens também. Se não os enfeitiçamos, eles nos enfeitiçam com toda a parafernália que querem obrigar-nos a consumir. Ouça bem: Um dia, um homem bateu à porta de um bruxo, vendendo-lhe um seguro de vida. Dá para acreditar?!… O bruxo pagaria a vida inteira, e só tornaria a ver o dinheiro depois de morto! Em outras palavras: ele jamais tornaria a ver a cor do dinheiro, porque bruxos não morrem!
Você deve estar se perguntando se o bruxo aceitou comprar o seguro… Eu vou lhe contar: O bruxo, bastante interessado na oferta que não lhe traria vantagem nenhuma; como não possuía dinheiro algum, resolveu propor ao homem que trocasse a apólice de seguro por um vidrinho cujo rótulo dizia: ELIXIR DA JUVENTUDE. O homem vaidoso aceitou a troca. Acontece que o elixir também não funcionava, e ficou tudo elas por elas.
Menino, ainda não foi dormir?!… Então, vá contar carneirinhos, que prefiro voltar para o meu caldeirão! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!… Garotinho chato esse, hein?!… É melhor fazer poções!… Cadê meus corvinhos?!… Um, dois… Ué?!… Onde foi parar de novo aquele fujão?!… Corvinho, corvinho, onde você está?!
Ei, menino, pare de ficar bisbilhotando! Feche logo esse livro e vá dormir!
Fim
Sisi Marques
Arte
Lucia Haddad