Wednesday, October 29, 2014

Contos de Bruxa - Parte 2



Ei, menino, você ainda está aí?! Não percebe que não sei escrever e preferiria que você fechasse esse livro?!… Já sei; preste bastante atenção: se não fechá-lo agora mesmo, poderei transformá-lo num… num… Não, espere! Acabei de me lembrar de uma história que minha tataratataratataratatara… Bem, já faz tantos séculos que nem me lembro mais quem a contou. Também, quem se importa?!… Quanto mais velha e descolorida a história melhor. A história começa assim:
Era uma vez um país onde só existiam bruxos e bruxas. Lugarzinho bom esse! Mas, apesar de toda a maldade que pairava no ar, a vida era muito monótona, porque os habitantes só estudavam a teoria dos feitiços e não tinham a comprovação de sua eficácia. Naturalmente bruxo não enfeitiça bruxo; e, por esse motivo, as fórmulas apodreciam sem jamais sair do papel. Tudo parecia perdido até que, certo dia, um duende muito esperto apareceu com um mapa do espaço, e indicou um planeta no qual haveria gente de sobra para servir de cobaia. Sem perder um minuto sequer, os bruxos exploradores montaram em suas vassouras mágicas e percorreram a rota que unia o país dos bruxos ao mundo dos homens.
Chegando lá, os destemidos bruxos tiveram uma surpresa ao verificar que os homens conseguiam ser ainda mais perversos do que os próprios bruxos. Pensaram: bruxo não mata bruxo, homem mata homem; logo: homem é pior do que bruxo. Aterrorizados, retornaram ao país dos bruxos vo-an-do em suas vassouras mágicas. Após reunirem-se com os dirigentes do país dos bruxos, os exploradores convenceram-se de que seria melhor voltarem ao misterioso planeta e estudá-lo, em vez de tirarem conclusões precipitadas. Os dirigentes não se enganaram: bruxos e homens poderiam conviver num mesmo planeta.
Você duvida?… Bruxos são espertos e homens também. Se não os enfeitiçamos, eles nos enfeitiçam com toda a parafernália que querem obrigar-nos a consumir. Ouça bem: Um dia,  um homem bateu à porta de um bruxo, vendendo-lhe um seguro de vida. Dá para acreditar?!… O bruxo pagaria a vida inteira, e só tornaria a ver o dinheiro depois de morto! Em outras palavras: ele jamais tornaria a ver a cor do dinheiro, porque bruxos não morrem!
Você deve estar se perguntando se o bruxo aceitou comprar o seguro… Eu vou lhe contar: O bruxo, bastante interessado na oferta que não lhe traria vantagem nenhuma; como não possuía dinheiro algum, resolveu propor ao homem que trocasse a apólice de seguro por um vidrinho cujo rótulo dizia: ELIXIR DA JUVENTUDE. O homem vaidoso aceitou a troca. Acontece que o elixir também não funcionava, e ficou tudo elas por elas.
Menino, ainda não foi dormir?!… Então, vá contar carneirinhos, que prefiro voltar para o meu caldeirão! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!… Garotinho chato esse, hein?!… É melhor fazer poções!… Cadê meus corvinhos?!… Um, dois… Ué?!… Onde foi parar de novo aquele fujão?!… Corvinho, corvinho, onde você está?!
Ei, menino, pare de ficar bisbilhotando! Feche logo esse livro e vá dormir!
 Fim
Sisi Marques
Arte
Lucia Haddad

Monday, October 27, 2014

Contos de Bruxa - Parte 1


Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!… Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!… O que foi, garotinho?!… Ficou com medo?!… Pois vou lhe dizer uma coisa: se sentiu medo, feche já esse livro porque ele não é para você. Sou uma bruxa; e piores do que histórias que falam de bruxas, são histórias contadas por bruxas. Nós o-di-a-mos finais felizes! Tem certeza de que ainda quer continuar lendo?!… Ouça bem, garotinho: se decidi escrever, foi só para quebrar um pouco a rotina; pensa que não cansa ficar com o umbigo colado naquele caldeirão, fazendo poções mágicas o dia todo?! Não, que não funcionem!… Funcionam que é uma beleza!… A última que preparei transformou uma barata em uma princesa, que se casou com um príncipe vaidoso e arrogante. Imagine só: ele certo de que ela saiu de algum conto de fada perdido no tempo; e, na verdade, encontrei-a dentro de uma das gavetas do gabinete da pia!
Ah! Ah! Ah!… Contos de fada!… Jamais conheci tolice maior! Contos de bruxa seriam muito mais divertidos! Felizmente esse lenga-lenga de príncipe e princesa já está em processo de extinção. Agora o mundo está para nós: valores morrendo; a aquisição de bens roubando o lugar dos sonhos; presentes subornando criancinhas e substituindo carinho… Quem precisa de amor?… Assunto mais careta!… O mundo está pra nós!
Que chuvinha boa!… Com esses trovões, conseguirei a inspiração que preciso. Você tem medo de relâmpagos e trovões?!… Bobagem!… Aposto que você também tem medo do escuro!… Eu não. Já visitei até caverna de dragão em plena madrugada!… Vou lhe contar a história toda: Possuo três corvinhos da sorte; não faço uma única poção se os três não estiverem por perto. Certa vez, contei-os: um, dois… cadê o terceiro?! Os outros dois disseram que o infeliz, curioso como era, disse que havia de conhecer o misterioso dragão que se escondera na caverna depois da floresta, nem que para isso tivesse que virar churrasco.
Churrasquinho de corvo!?… Imagine só que petisco saboroso para um dragão faminto!… Eu não poderia permitir que algo tão terrível assim acontecesse!… Ora, não com o meu corvinho da sorte! Larguei tudo… Apaguei o fogo do caldeirão… Apanhei minha vassoura mágica e voei em disparada, alcançando a toca do dragão antes que o malvado tivesse devorado meu bichinho. Aquele serzinho repugnante já o havia amarrado no espeto e preparava-se para cozinhá-lo em seu bafo quente!… Odeio dragões! São os animaizinhos mais asquerosos e prepotentes que existem… Além de preguiçosos!…
Para poder livrar meu corvinho, tive que prometer que cozinharia durante um mês para aquele monstro de apetite insaciável! Mas foi aí que pude me vingar, porque toda vez que eu preparava a comida, eu adicionava uma pequena dose de uma poção redutora. Imagine a que tamanho o bichinho ficou reduzido… Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!… Ficou menor do que um camundongo. Bem feito!  Ele é que acabou servindo de refeição para o meu corvinho!
                                                                
  Sisi Marques
Arte
Lucia Haddad

 

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